
Dia 09 de setembro, 00h25. Naquele momento decolava de Guarulhos o voo que me levaria para a maior aventura da minha vida: o Japão. Aos 29 anos, aquele garoto que cresceu assistindo aos Cavaleiros do Zodíaco e tantos outros desenhos e seriados japoneses finalmente iria conhecer o país de seus avós paternos pela primeira vez.
A viagem aconteceu por conta de um programa do Ministério de Assuntos Estrangeiros do Japão, que tem como objetivo divulgar o país e estabelecer vínculos com as novas gerações de descendentes na América Latina. Não foi fácil. Fui aprovado só na terceira tentativa, concorrendo sempre contra outros quase 200 participantes.
Naquela semana, pouco importava o fuso horário ou as mais de 24 horas de voo que separam os dois países. Descobrir – ou redescobrir – o Japão foi algo inesquecível, e em alguns pontos, indescritível. Tive oito dias de aprendizado com palestras sobre a diplomacia japonesa, encontros com autoridades e experiências culturais únicas. Na verdade, se eu pudesse voltar no tempo e dizer a mim mesmo que isto aconteceria, eu provavelmente não acreditaria.

A começar pelos nove descendentes da América Latina que fizeram parte do grupo, todos com referências nas suas áreas e histórias incríveis. Participaram comigo nesta aventura os brasileiros Edwin Hasegawa, Cinthia Saito, Jussara Kishi e Kenzô Machida; a argentina Paula Ikeda; o chileno Christian Noguchi; o mexicano Pedro Kumamoto; a paraguaia Mirta Miyazaki; e o peruano Jair Villacrez.
Mesmo fora da programação oficial, passeávamos em grupo e conversávamos a todo momento. Nos relacionamos tão bem que até parecia que já havíamos nos conhecido há muito tempo em um bar da mesma cidade. Mas na verdade foi apenas o começo de uma amizade para toda uma vida.
Um dos momentos marcantes foi quando tivemos a honra de participar de um encontro com Suas Altezas Imperiais, príncipe e princesa Akishino, em sua residência oficial. Em um cerimonial bastante minucioso, tivemos o privilégio de conversar com eles, cumprimentá-los e participar de uma foto oficial. Ter um contato com a família imperial é quase que inalcançável para os próprios japoneses, e é impossível não se emocionar depois de uma experiência tão marcante.

É claro que a culinária japonesa não poderia ficar de fora. Do bentô (marmita), passando pelo sushi e sashimi até os pratos mais refinados, todos eles mereciam as lentes de nossas câmeras fotográficas antes de serem saboreados. A hospitalidade japonesa, ou omotenashi, surpreendeu a todos nós. Seja na recepção no restaurante ou nas visitas a autoridades governamentais, todos se dedicavam a nos receber da melhor maneira possível, com educação e gentileza.
Em meio a uma agenda tão intensa, tentei parar por um minuto, olhar em volta e admirar estas pessoas e estes momentos que guardarei para sempre com muito carinho. Seja olhando para a Tokyo Tower do quarto do hotel, para a paisagem que passava pela janela da van após a visita Imperial, ou meditando em um templo zen-budista. Uma semana especial de aprendizado, de amizades e de experiências culturais inesquecíveis, mas que deixou um gostinho de quero mais. Muito mais.
Texto escrito originalmente para o Jornal A Tribuna de Santos.