
A cultura e a comunidade japonesa no Brasil conquistaram uma posição de prestígio após 107 anos da chegada do navio Kasato Maru ao Porto de Santos e 120 anos da assinatura do Tratado de Amizade que iniciou as relações diplomáticas entre os dois países. Da culinária tradicional, passando pelos animês e mangás, até o gesto de recolher o próprio lixo após as partidas da Copa do Mundo de 2014, os japoneses e a comunidade japonesa no Brasil são vistos com muita admiração e como exemplo a ser seguido para a construção de uma sociedade melhor.
Há uma demanda crescente por conteúdos relacionados ao Japão, mas nem sempre essa demanda é atendida por conta de barreiras de comunicação. A maior parte dos brasileiros não compreende a língua inglesa ou japonesa, mas tem uma curiosidade e respeito por todo o significado dos costumes, pela tecnologia e pela postura social nipônica.
Uma das formas mais eficazes de transmitir os pontos atraentes do Japão para a sociedade brasileira é o uso da internet. Nos tempos atuais, a ferramenta é indispensável para pesquisas gerais, divulgação e entretenimento. Além disso, é uma alternativa viável e eficiente ao mainstream dos veículos de mídia tradicionais que, apesar de apreciar a comunidade japonesa no Brasil, não tem como prioridade uma abordagem mais detalhada.
A cultura pop japonesa cresceu muito dentro deste ambiente nos últimos 10 anos, principalmente entre os jovens brasileiros. Eles assistem animês pelo computador e criaram uma comunidade virtual para troca de informações que abre espaço para um possível aprofundamento da cultura, como a busca pelo aprendizado do idioma japonês, por exemplo. Hoje, boa parte dos jovens que buscam informações pelo Japão e por escolas de língua japonesa não possuem descendência, e lotam convenções realizadas anualmente em São Paulo com a presença de artistas daquele país. A maior delas reúne dezenas de milhares de jovens, de diversas cidades de todo o Brasil.
A Associação Japonesa de Santos criou no Facebook um vínculo essencial com a comunidade local para a divulgação de suas atividades. O interesse dos que curtem a página fazem com que os eventos da entidade sejam compartilhados a muitos outros usuários da rede, criando um alcance impressionante para uma entidade cultural nipo-brasileira.
Outro fato interessante é que existem canais no YouTube feitos por brasileiros no Japão, que contam o cotidiano de suas vidas longe de sua terra natal. Eles contam sobre as diferenças culturais e curiosidades de se viver em terras japonesas, o que atrai muitos interessados em visitar a terra do Sol Nascente. Entretanto, há uma certa lacuna em outros aspectos da cultura tradicional e da sociedade japonesa, principalmente no que diz respeito à vida no Japão, como política, economia, e até mesmo informações turísticas.
Um outro método a ser apreciado é o estreitamento das relações com a comunidade brasileira e nipo-brasileira nos âmbitos cultural, turístico e científico-tecnológico. A comunidade nipo-brasileira vem se esforçando para propagar a cultura no Brasil, mas nem sempre isso é potencializado por conta de diversas dificuldades de realização, típicas por serem realizadas por voluntários dentro da própria comunidade.
Estas dificuldades vêm sendo discutidas arduamente nos últimos anos, principalmente nos encontros promovidos anualmente pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, o Bunkyo. As entidades culturais nipo-brasileiras enfrentam um delicado momento nos últimos anos. Desde o final do movimento imigratório, na década de 1970, o fator social da identidade dos isseis vem perdendo força. A miscigenação e a integração ao Brasil fez com que muitos dos descendentes perdessem o vínculo com a cultura e a comunidade japonesa. Por outro lado, a popularização dos costumes japoneses, representados principalmente pela disseminação de restaurantes especializados na culinária oriental, atrai cada vez mais não-descendentes.
É bem provável que, nos próximos anos, as entidades nipo-brasileiras deixem de lado o aspecto social, de ser uma entidade “de imigrantes”, para serem instituições em que o interesse na cultura japonesa e no Japão seja a prioridade, independentemente do vínculo sanguíneo com o país. Neste sentido, iniciativas de maior proximidade podem facilitar um maior intercâmbio de ideias e na convivência entre duas culturas tão diferentes. Não só para a preservação da cultura tradicional, mas para a apresentação e atualização dos aspectos modernos da sociedade japonesa, defasados desde a segunda metade do século passado.
Entretanto, isso não se restringe só a comunidade nipo-brasileira. Há muitos interessados em complementar suas carreiras acadêmicas e profissionais no Japão, e que poderiam atuar como agentes multiplicadores no regresso ao Brasil dentro das próprias entidades culturais, ou por meio de grupos acadêmicos, de ex-bolsistas, ou até por inciativas individuais.
Portanto, a transmissão dos pontos atraentes do Japão para a comunidade brasileira tem a produção de conteúdo para a internet e o estreitamento das relações com a comunidade como fatores essenciais para o sucesso. Assim é possível facilitar iniciativas de busca de conhecimento sobre o Japão, bem como proporcionar uma maior imersão e intercâmbio entre os dois países, seja através das entidades culturais nipo-brasileiras e suas atividades, ou por meio do turismo e da pesquisa acadêmica.