
No início de dezembro foi finalmente sancionado o projeto de lei que autoriza a devolução definitiva do imóvel da sede da Associação Japonesa de Santos, confiscado após a Segunda Guerra Mundial.
A entidade é sucessora da antiga Sociedade Japonesa de Santos, cujos primeiros registros datam de 1929 em uma escola mantida para ajudar no ensino dos descendentes de imigrantes. A escola e a antiga entidade funcionavam em um casarão adquirido com o apoio do governo japonês na Rua Paraná, 129, no bairro Vila Mathias.
Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, uma ordem da Superintendência da Ordem Política e Social obrigou os japoneses e outros imigrantes das nações do Eixo a deixar a cidade – considerada área de segurança nacional – em um período de 24 horas. As atividades culturais e educacionais da entidade foram suspensas.

Após o fim da guerra e com uma minúscula quantidade de imigrantes japoneses em Santos, um outro decreto federal (9.727, de 03/09/1946) dissolveu as sociedades civis de imigrantes dos países do Eixo e transferiu o patrimônio destas entidades ao Governo Federal. Com isso, a Sociedade Japonesa de Santos foi dissolvida, e o casarão onde funcionava a escola na Rua Paraná foi incorporado ao patrimônio do governo brasileiro.
Só em 2006 a Secretaria de Patrimônio da União permitiu o uso do imóvel para as atividades da Associação Japonesa de Santos. Em 2008, o casarão foi reinaugurado com a presença do príncipe Naruhito, durante as comemorações do Centenário da Imigração Japonesa.
Conheci esta história ainda durante a faculdade de Jornalismo, há pouco mais de 10 anos, quando contei a história do imóvel da Rua Paraná em reportagem para uma disciplina do curso.
No ano seguinte, ao participar de uma comissão municipal para as comemorações do Centenário da Imigração Japonesa, acabei conhecendo outros líderes da comunidade nipo-brasileira. E em 2009 passei a fazer parte da Associação, colaborando como Diretor de Comunicação. Hoje o espaço recebe eventos, cursos e atividades culturais, além de manter o ensino da língua japonesa em uma escola com mais de 100 alunos.
A decisão pela “doação sem encargos”, publicada no Diário Oficial da União no dia 06 de dezembro, é o capítulo final de uma luta de mais de 60 anos da comunidade nipo-brasileira da região. Só o texto que virou lei estava em trâmite no Congresso Nacional desde 1994.
Durante todo esse tempo, autoridades políticas municipais, estaduais e federais de vários partidos se envolveram na causa. Em julho, participei de uma comitiva de diretores da Associação que se reuniu com o primeiro secretário da Mesa Diretora da Câmara. O então Embaixador do Japão no Brasil, Kunio Umeda, também participou do encontro. Um fato raríssimo no campo da diplomacia e as relações bilaterais.

Agora, finalmente, depois de décadas de luta da comunidade nipo-brasileira e da dedicação de uma vida inteira de vários líderes à causa – alguns dos quais já falecidos -, a cultura japonesa finalmente tem a sua casa de volta. Não só para as futuras gerações de descendentes, mas também para os interessados não-descendentes.
Se um mundo melhor passa pela compreensão e entendimento de diversas culturas e costumes, esta reparação histórica é um passo importante para isso.