
O segundo e último dia de painéis do MediaOn 09, 3º seminário internacional de jornalismo online, começou com o tema “A experiência das empresas que já nasceram com vocação digital”. No palco, Pierre Haski, editor-chefe do Rue89.com e Fernando Madeira, presidente do Terra América Latina. Mediando o debate, Cláudia Vassallo, diretora de redação da revista Exame.
Pierre Haski falou muito sobre as mudanças que o jornalismo enfrenta nos últimos anos. Ressaltou que o jornalista “encara ‘nu’ o público”, referindo-se a comunicação multilateral e igualitária através de comentários e redes sociais. Não dá para controlar a reação do visitante.
Afirmou também que hoje existe uma guerra entre dois grupos na Internet: as empresas e os Internautas, quando se fala da produção de informação na web. Lembrou que não é a primeira crise que o jornalismo enfrenta. Já ocorreu a estrutural, de como produzir e formatar os jornais enquanto produto, e a crise moral, de falta de confiança por parte do público.
Quanto à produção de blogs, ele disse que apesar de ser fácil qualquer um poder criar seu próprio veículo na web, “o internauta sente-se bem em ter a informação em um site seguro e confiável”, referindo-se ao Rue89.com.
Citou também o erro de limitar o usuário a envio de fotos e vídeos como forma de “jornalismo cidadão”, a questão da propaganda e planos de negócios na Internet, e o poder das mídias sociais, que “é mais poderosa do que o Google”. Falou que ser inovador é parte da solução para o sucesso das mídias online, aliada a um plano de negócios que deve descartar a cobrança por conteúdo e a confiança em uma só fonte de receita.
No mesmo painel, Fernando Madeira começou a apresentação com citações de representantes da mídia tradicional com provocações a respeito da mídia online. Colocou em cheque a possibilidade de grupos “stone-age” de criar algo como Kindle e iTunes.
Comentou sobre a experiência do Terra na cobertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, com a transmissão ao vivo, em vídeo, de várias competições esportivas simultâneas. Disse que mais que brigar pela audiência, o desafio é torná-la participativa.
No debate, surgiram assuntos como jornalismo profissional x jornalismo cidadão, o clichê de que a Internet ficará com o realtime e os jornais com análises, e a falta de movimentação por parte dos veículos impressos.
Um dado interessante é que no Brasil há mais de 60 milhões de internautas, com uma penetração que só perde para a TV. Fernando Madeira questionou o conceito de exclusão digital, já que existem dados de que há mais gente das classes mais baixas do que das mais altas na Internet. Tudo isso aliado a cibercafés, e a presença de lan-houses até em favelas. Isso sem contar o celular.
Apesar de todo o caos, os dois afirmaram que a nova geração tem muita sorte. “Porque os jurássicos terão que correr atrás para estar na área”, disse Haski. Já Madeira disse que além da vantagem de “nascer digital”, não dependem mais de cinco grupos de comunicação. Além disso, falou que as ferramentas ainda não são as melhores nas universidades, que deverão se aprimorar.
O sexto painel, “A informação em Tempo Real – como as novas tecnologias impactam o consumo de conteúdo”, contou com a presença de Silvio Meira, professor de engenharia de software e André Mermelstein, da revista Tela Viva, substituindo Nick Wrenn, da CNN, que não pôde estar presente. Na mediação, Américo Martins, editor-executivo do Serviço Mundial da BBC de Londres.

Silvio Meira fez uma apresentação mais focada no consumo da tecnologia, na qual o público virou comunidade. Utilizando de jargões tecnológicos, falou da possibilidade de cruzar conteúdos e como as pessoas utilizam a informação, da interface aliada à usabilidade, e do conteúdo mobile.
Em uma apresentação divertida, disse que a curva da evolução da tecnologia aliada à informação é similar a de juros compostos, a força mais poderosa do universo, citando Albert Einstein. E citou também Darwin, quando falou em competir e cooperar para sobreviver em uma evolução permanente.
Já André Mermelstein fez sua apresentação mais direcionada às mudanças na TV 2.0, que vem agregando conteúdos e conceitos da Internet, como a não-linearidade, interatividade e novos modelos de negócios. Citou aí os conteúdos patrocinados, advertainment e marketing integrado.
A nova televisão se apóia em múltiplas plataformas, que vai desde a TV digital terrestre até os consoles de games, dando a idéia de convergência. Ainda mais com os novos aparelhos de TV que possuem aplicativos associados a tarefas na Web. Um caso é o Internet@TV da Samsung, que possui módulos de acesso ao YouTube, Flickr e notícias, por exemplo.
Um caso de convergência apontado por André é o contato da Endemol, produtora de conteúdo, com a Microsoft para transportar o conceito do programa “1 contra 100” para o videogame. E ainda com a inserção de intervalos comerciais. Já imaginou, intervalos comerciais nos games?!
Durante o debate, Silvio comentou o modelo desenvolvido pelo jornal The Guardian, que consiste na publicação do arquivo em uma API, acessível ao público. “Não se sabe como ganhar dinheiro com isso, mas eles sabem que se não arriscarem, vão desaparecer”. Ainda comentou que não existe a possibilidade das comunicações virtuais substituírem as reais.
André citou a explosão das informações pelo Twitter. “O Twitter dá muita notícia, mas a partir daí o Internauta corre atrás da informação em sites de notícias”.
Depois de uma parada para o almoço, em que quebrei a regra de sempre comer takoyaki quando estiver no bairro da Liberdade, começou a etapa final do MediaOn 09. O tema “Esporte como paradigma do Jornalismo Online” reuniu José Henrique Mariante, do caderno de Esportes da Folha, Luiz Fernando Gomes, editor-chefe do Lance!, e Julio Gomes, editor do ESPN.com.br e do ESPN360.

Julio e Luiz Fernando fizeram uma apresentação falando sobre os respectivos sites, apostando sempre na participação do visitante e na diversidade de formatos e conteúdos.
Luiz Fernando Gomes citou a TV e Rádio L! como as novas apostas do veículo, que aliás surgiu semanas antes do jornal impresso. Na área de jornalismo colaborativo, citou o Lance Activo 2.0, que aposta na interatividade. “Temos que transformar paixão em participação”.
Foi importante ele ter dito que ninguém faz tudo ao mesmo tempo. “Todos estão aptos a fazer tudo. Mas não necessariamente tem de fazer ao mesmo tempo”. Já havia lido em vários outros lugares que a tal “orquestra de um homem só” não dá certo. Perde-se muito na qualidade da informação.
Júlio Gomes comentou que a ESPN Brasil entrou tarde no jornalismo online. Falou do conceito de tags que faz parte dos pilares do crescimento do site, sem a necessidade de menus com a listagem das modalidades. Citou também os widgets, que possibilitam transportar o conteúdo da ESPN Brasil para sites e blogs, interatividade, vídeo on demand pelo ESPN360 (colocando aí um divertidíssimo das gafes do Sportscenter) e operações cross-media (como um caso em que o telespectador que decidiu o que seria transmitido no canal, em virtude de dois eventos esportivos acontecerem simultaneamente).
Ainda afirmou que o jornalismo online praticado hoje em dia pela maioria dos veículos está errado, pois os profissionais ficam enclausurados nas redações.
A apresentação de José Henrique Mariante foi mais técnica. Falou que o sucesso se dá porque o esporte é importante para as pessoas, antes mesmo do jornalismo. “Faz parte da vida das pessoas, além de ser saudável”. Comentou da necessidade do jornalista esportivo transportar sua experiência para outras áreas da redação, que necessitam do poder de improvisação.
Abordou também da desvantagem que envolve os direitos de transmissão dos eventos esportivos, que são facilmente contornados pelos jornais impressos, e que ainda há uma falta de identidade. “O jornalismo esportivo está entrando na academia agora”.
No debate, citaram a importância de redes sociais na geração de tráfego. No Lance!, o Twitter é a 8ª fonte de audiência, e o Orkut, a 3ª. No caso do ESPN.com.br, o Twitter responde pela 3ª colocação. Falaram também que os jornais tradicionais devem dar as notícias de amanhã, e não as de ontem.

O último painel do MediaOn 09 abordou “o que um jornalista precisa para se integrar à Era das Novas Mídias”. No palco, Tiago Dória, jornalista e colunista de tecnologia do programa Notícias MTV, e José Roberto de Toledo, um dos fundadores da Abraji e pioneiro no desenvolvimento das técnicas de Reportagem com Auxílio do Computador (RAC/CAR) no Brasil. Na mediação, o jornalista Carlos Drummond, coordenador do curso de jornalismo multimídia das Faculdades de Campinas (Facamp), colaborador do Terra Magazine e da Carta Capital.
Tiago Dória falou da posição do jornalista nos novos tempos, em que não domina mais as conversas e a atenção, sendo apenas mais um nó na web. Disse ainda que além de aprender a dominar as ferramentas, deve entender os conceitos. “As ferramentas vão, mas o conceito continua”.
Além disso, ressaltou que o jornalista deve aprender a ouvir. Por incrível que pareça, é uma verdade. O processo se tornou tão industrial que muitas das reportagens são feitas no piloto automático. Além disso, nunca foi muito do hábito do jornalista ouvir e dialogar com seus leitores. Lembrando: somos comunicadores sociais. Contraditório, não?
José Roberto de Toledo falou do auxílio da tecnologia na checagem e contextualização da reportagem, do uso das mídias sociais como ferramenta de obtenção de dados jornalísticos, a medição do comportamento dos usuários.
Ele ressaltou também a contradição do contexto da publicação, com a competição com o próprio meio, citando casos em que empresas de comunicação ditam como seus funcionários devem usar as redes sociais. E como estas empresas as utilizam hoje.
Durante o debate, ele disse que o jornalismo investigativo de hoje é melhor do que há cinco anos, citando as possibilidades novas de cruzamento de dados com o auxílio do computador e da Internet.
Não foi no MediaOn e ficou interessado? Todos os vídeos das apresentações dos oito painéis estão disponíveis na Terra TV. Os debatedores Silvio Meira, José Roberto de Toledo e Tiago Dória deixaram seus slides disponíveis na web.